Não é fácil ser popular. Quando foi revelado na E3 2006, Assassin's Creed, o novo jogo da equipe de Prince of Persia: Sands of Time, muitos jornalistas o consideraram o mais impressionante expoente da nova geração de consoles. E com razão: a demonstração surpreendeu com sua enorme cidade habitada por dúzias de pessoas que reagem com naturalidade, somada a gráficos impressionante e um sistema de animação e escalada de construções sem nenhum precedente. Com uma temática interessante e sutis dicas de uma surpresa na história, a aposta era que a nova surpresa da Ubisoft poderia ser o jogo do ano de 2007 antes mesmo do ano começar. Infelizmente, como as teorias de conspiração de seu enredo, seu desenvolvimento parece ter passado por alguns problemas desconhecidos. Sem estragar muito a reviravolta revelada nos primeiros minutos, você passará a maior parte do jogo controlando Altair, membro de uma guilda de assassinos nas proximidades da Terra Santa no meio da Terceira Cruzada. Depois de perder sua alta patente durante uma missão, ele deve recuperar sua honra assassinando uma série de cavaleiros templários com uma agenda misteriosa e tomar deles um misterioso artefato.

Mas existe muito mais do que isso acontecendo, e logo ficará claro que Assassin's Creed é apenas o início do que promete ser uma série de aventuras baseadas em fatos históricos. Toda a aventura é dividida em blocos de um a três assassinatos, que podem ser feitos em qualquer ordem. Cada um deles acontece em uma de três cidadades históricas recriadas nos mínimos detalhes: Jerusalém, Acre e Damasco. Para tal, você deve começar recolhendo informações no local, que acontecem como mini-games: bater carteiras, interrogar pessoas, e completar missões para informantes. Só que para essas surgirem no mapa, você antes precisa escalar uma torre alta para conhecer os arredores. Além dessas, missões opcionais de defender cidadãos inocentes dos guardas adicionam vigilantes (que atrapalham o fluxo de guardas durante perseguições) ou monges (que permitem que você se camufle no meio da multidão).

Tendo completado metade das missões de inteligência, você pode ir até a guilda local e receber sua missão de assassinato e fechar uma das nove partes da aventuras. Isso se repete até o dramático epílogo. Não dá para dizer que as conquistas técnicas da equipe de Montreal não chegam a ser inacreditáveis: a maneira realista como Altair usa a geometria dos prédios é impressionante, e os controles que exploram isso quase automaticamente (ao contrário da necessidade de participação precisa do jogador como em Prince of Persia) solidificam a atenção os detalhes. Mas no decorrer da aventura, você também vai começar a perceber que a estrutura dos mini-games dentro de cada assassinato é um tanto forçada e exageradamente linear. Você recebe uma enorme liberdade dentro dessa fantástica cidade virtual... mas no fim das contas acaba correndo para completar um bando de missões quase totalmente desconexas. Como Fable, Assassin's Creed é um game que abre muitas possibilidades... mas corre o risco de se apresentar como um título bastante genérico se o jogador operá-lo com essa mentalidade. O verdadeiro potencial surge quando você planeja suas ações, estuda o ambiente e utiliza as habilidades de Altair ao máximo. Aliás, por isso mesmo, algumas convenções mais forçadas como as pilhas de feno e celeiros acabam destruindo a suspensão de descrença - apesar de serem perfeitos como ferramentas de jogabilidade. É uma troca perigosa em um produto no qual você pode ver os dedos do protagonista se apoiando realisticamente em uma treliça... para então se esconder um celeiro no teto de um prédio no meio do nada e ver meia dúzia de soldados confusos. Com tudo isso, Assassin's Creed acaba assumindo sua identidade como um jogo elitista. Ele não teme quebrar algumas convenções e tentar inovar o meio com alguns truques bastante interessantes, porém perigosos para as massas: um deles é o fim da cenas não-interativas - agora quando você precisa ver uma exposição ou diálogo vital entre personagens, o game permite que você mantenha controle limitado da câmera e do protagonista. Para alguns, isso pode ser revolucionário... mas para a maioria, deve acabar se provando frustrante e sem o mesmo acabamento do resto. Da mesma forma, o sistema de controle que tira parte do desafio da sua mão resulta em dificuldades em realizar algumas operações simples (vale ressaltar, porém, que o sistema de combate é fantástico, e tão divertido de assistir quanto de jogar). Finalmente, quando o total escopo da trama vai se revelando, a complexidade pode surpreender até aos fãs de "O Código Da Vinci" com suas referências históricas, teorias de conspiração e reviravoltas. Quando Assassin's Creed foi revelado para o mundo pela primeira vez, muitos tomaram uma parte pelo todo. Agora que a obra é vista na íntegra, a imaginação de muitos pode tomar um verdadeiro banho de água fria.

Mas isso não tira dessa obra-prima o mérito de suas conquistas... especialmente quando se leva em conta o caráter revolucionário e inovador de algumas delas que permaneceram escondidas até seu lançamento. Como Altair, você precisará dar um salto da fé do topo de uma torre - a recompensa valerá a pena.
Fonte:Baixaki jogos & Gametv
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